Por que os homens traem?
Infidelidade, Mecanismos de Defesa e afins.
Este tema é complexo, amplo e regado de discussões. Para muitas mulheres a infidelidade é um dos maiores e mais comuns defeitos do homem. Este texto explora um pouco deste universo para entender os motivos que conduzem o homem à traição. Ressalvando que, independentemente dessas razões, é extremamente necessário que a mulher tenha em mente que não é a culpada. A responsabilidade por uma traição é exclusiva de quem a pratica.
Não é fácil nem simples falar sobre traição. Primeiro, porque é necessário conceituar o que de fato a caracteriza, o que pode mudar de acordo com a cultura, valores e crenças tanto sociais quanto pessoais. Além disso, há muitas variáveis, quanto à situação, condição, acordo e expectativa em cada relacionamento, que deve ser analisado em particular.
Porém, podemos refletir sobre alguns aspectos da infidelidade. De início, à luz deste texto, considere traição/infidelidade como: Qualquer ação ou desejo físico-emocional por outra pessoa que não aquela a quem foi assumido o compromisso de exclusividade, seja namoro, noivado, casamento, união estável ou mesmo um ficar (se assim foi acordado).
Desta forma, um homem comprometido se apaixonar por outra mulher, pode ser traição, mesmo sem se relacionar com ela; e relacionar-se com uma mulher seria traição, mesmo sem sentir nada por ela.
Por que os homens traem?
Geralmente, do ponto de vista da mulher traída, é por falta de caráter, responsabilidade, respeito, maturidade e amor à parceira. O que, aparentemente, faz todo sentido. Porém, é incomum que um homem infiel se enxergue desta mesma forma. A menos que ele já tenha colhido amargos frutos de sua infidelidade, dificilmente vai dizer: “traí porque sou um mau caráter, irresponsável e infantil”.
Analisando alguns casos, podemos encontrar justificativas muito utilizadas nos casos em que a traição não foi apenas um deslize isolado. A maioria fará uso dos seguintes mecanismos de defesa:
Transferência de culpa: Muitíssimo comum, é usada por aqueles que demonstram imaturidade e irresponsabilidade diante de seus erros. Costumam justificar sua atitude alegando, entre outras coisas, que a mulher não gosta de sexo; que é possessiva, ciumenta e o sufoca; que não é uma boa companhia; que só reclama; que é relaxada, ou que só se preocupa com casa e/ou filhos. Este tipo de argumento tenta reivindicar direitos e equiparar a vítima a quem cometeu o ato.
Racionalização: Tornar comum o que é particular. Também bastante usada e defendida, às vezes, com status de “evidência científica”. Neste caso os infiéis alegam, entre outras coisas, que isso é normal; todo homem trai; que é uma necessidade biológica; que não nasceu para ser fiel; e uma das mais difíceis de a mulher tolerar: “Não foi traição, foi ‘só’ sexo”. Neste recurso são usados eufemismos como “ficar”, “conhecer” e “nada sério”, além de argumentos como “eu amo minha mulher, não quero trocá-la” e “a relação com ela melhorou”.
Síndrome de vítima: Sentimento de autopiedade. Usado por aqueles que culpam “as circunstâncias”. Algumas das alegações são: Foi mais forte do que eu; já tentei de tudo; está sendo injusta; é meu ponto fraco; não posso ser perfeito. Sobre esta atitude, me baseio nas palavras do psicólogo Antonio Roberto Soares, para afirmar: vítima é a pessoa que se sente inferior à realidade e esmagada pelo mundo externo. Há nela uma incapacidade de procurar o caminho das soluções, então transfere seus problemas para o mundo exterior junto com a responsabilidade do que está lhe acontecendo, pois não quer mudar, para não assumir os erros. Este tipo de postura provém do sentimento de solidão. É quando não percebemos que somos responsáveis pela nossa própria vida, por seus altos e baixos.
E o que revelam as pesquisas?
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Karolinska, na Suécia, coloca mais ingredientes no tema: a genética. Trata-se do “alelo 334”, gene que, em homens, estaria relacionado com o comportamento infiel. A conclusão veio depois da pesquisa com cerca de mil casais heterossexuais, e segundo a qual os homens portadores do gene (40% dos pesquisados) afirmaram ter vínculos menos fortes com suas parceiras. Seria uma boa desculpa para os infiéis? Bem, seria mais ‘desculpa’ do que ‘boa’. Pois carece muito de confiabilidade devido a diversos fatores, como a metodologia e amostragem.
Para homens inteligentes, uma mulher basta. É o que diz a pesquisa divulgada em 2010 pela London School of Economics, uma das mais renomadas escolas de economia e ciências políticas do mundo. Foram examinados os resultados de estudos feitos nos U.S.A. e na Grã-Bretanha. A conclusão é de que homens com o QI mais alto têm menos tendência a trair suas mulheres. Essa relação entre fidelidade masculina e inteligência é um sinal de evolução. Para o homem primitivo, a promiscuidade ajudava a multiplicar a tribo. Para o homem moderno, o mais importante é a estabilidade da relação e a família. Talvez daí a razão de muitos homens afirmarem terem feito uma “burrada” ao trair.
Por fim, a incidência frequente e incontrolável atitudes infiéis pode indicar questões emocionais que devem ser tratadas através de psicoterapia. É o caso de homens que insistem na infidelidade por um longo período, até que sua relação chega ao fim. Em seu livro “O 30 erros que os homens cometem…” a psicóloga Norma Pantojas relata o caso de um homem que a procurou depois de três casamentos destruídos, todos pela sua dificuldade em ser fiel.
As razões que levam a esse tipo de problema emocional são várias. Segundo o terapeuta sexual e urologista Celso Marzano, a lista pode envolver: a sensação de perigo, a sensação de poder, vingança, necessidade de autoconfiança, vaidade, insatisfação e carência. A psicóloga Carla Zeglio, falando sobre os mitos da infidelidade, lembra que experiências que o homem teve na vida, desde a compreensão da relação dos avós, pais, tios e todas as pessoas envolvidas no primeiro núcleo social dizem a ele o que é ser homem. “Socialmente, ‘ser homem’ é ter de fazer sexo, quantas vezes forem necessárias que se comprove a masculinidade”.
Em casos mais graves a traição pode caracterizar uma patologia, como compulsão sexual. Isso ocorre, por exemplo, com muitas vítimas de abuso sexual que, em vez de desenvolverem aversão ao sexo, passam a tratar sua sexualidade de forma superficial. Há também pessoas que “traem antes” por causa do medo de serem traídas. O que não demonstra sensatez, já que não resolveria a infidelidade do parceiro e o faria pagar por algo que sequer (ainda) cometeu.
E como fica a mulher?
Independentemente dos argumentos aqui expostos, a mulher traída não pode ser responsabilizada. Porém, muitas delas acabam assumindo essa culpa ao ponto de buscar satisfazer as “necessidades” do homem para que ele não volte a trair. Se você sente que tem deficiências, deve trabalhá-las. Mas sua responsabilidade é com suas falhas, não com as dele. Sobre esta questão, leia: A CULPA NÃO É SUA. Porém, como em psicanálise nossas ações não são consideradas frutos do acaso, é bom observar se a traição é recorrente.
Porém, se a traição ocorre em uma situação isolada o homem tem a opção de abrir o jogo, arrepender-se, pedir perdão, e recomeçar, caso a mulher aceite. Se há um problema na relação, como os citados nos argumentos masculinos, esta deficiência deve ser exposta, estudada, esclarecida e acordada para que haja uma solução conjunta. Se não houver solução, ambos devem determinar os rumos do relacionamento. Mas não há razões para manter uma relação construída e sustentada sobre mentira e falsidade. Nenhum homem está obrigado a permanecer numa relação em que não esteja satisfeito. Quem tem a coragem e atitude de trair pode utilizar essa coragem para encerrar um ciclo de maneira honesta.
“Mais eu a amo…”. Quem ama não quer o mal, nem tampouco fará ao outro o que não deseja a si mesmo. Se o fizer, se esforçará para corrigir o erro. Se for patologia, deve buscar a cura. Se problemas emocionais, deve tratá-los. Se não estiver satisfeito, deve abrir o jogo. Se não resolver, deve agir de forma responsável e respeitar a dignidade da parceira.
Antes que o texto pareça injusto, as mulheres também traem, por estas e outras razões.
Porém, isto será assunto para um próximo texto.
Alessandro Poveda Psicanalista SAC (11) 94945-8735
Concordo!!Quem ama respeita, nao trai!!!