A GERAÇÃO TOUCH NÃO SE TOCA

IMG_0437Aprendi a valorizar o toque. Sim, esse toque físico mesmo… Abraço,  beijo,  aperto de mão, cutucada na cintura, apoiada no ombro, tapa nas costas, mão nos cabelos ou segurada no queixo, uma beliscada de leve.

Algumas pessoas seguram no seu antebraço para enfatizar uma informação, outras agarram seu braço enquanto caminham, de repente, para manifestar alegria. Lembro-me de pais que, ao falar com seus filhos já crescidos,  colocavam suas mãos próximas a seus bíceps ou ombro para dar-lhes alguma instrução.
Acho forte a cena de uma pessoa orando por outra impondo a mão sobre sua cabeça. Acho profundo o abraço longo, em que um acha que acabou e o outro continua segurando, pedindo em silêncio por mais. Acho nobre segurar a mão da avó e pedir a bênção.

Acho sublime o toque. Através dele podemos sentir a temperatura do outro. E não somente sentir, mas transmitir. Um abraço é mais quente do que um cobertor. Nas brincadeiras de criança o toque sempre foi constante. Caíamos uns por cima dos outros, nos escondíamos em grupos, dávamos as mãos em rodas ou abraços coletivos. No toque podemos sentir pulsação, notar que existe uma vida além da nossa. Podemos abrir mão de palavras.

Toque transmite vibração, tensão,  confiança, um acordo. Nele há segurança e conforto.
Até para simbolizar que “estávamos de bem”, tocávamos os dedinhos.
Ver é bom, é contemplar à distância. Mas tocar confirma existência de uma realidade exterior. “Há alguma coisa fora, que não eu mesmo”.iemma-short-madden-30_72
Já imaginou uma relação entre casais sem toque? E entre pais e filhos?

Mas, mesmo com toda essa relevância, o toque parece escasso. Não extinto, mas está ralo, raro, rápido. O virtual, embora positivo,  tem tomado espaço demais.  Melhor, tem criado espaço demais ao ponto de não nos tocarmos mais.

Perdemos a sensação singela de tocar sem razão. A distância está aumentando.
Há uma frase que de vez em quando circula pela Internet “a tecnologia aproxima os que estão longe e  afasta os que estão perto” (ironia é ela circular pela Internet).

Acho que seria tão legal juntar ambos, o mundo real e o virtual. Tipo o que acontece durante as selfies. Abraços, fotos e postagem. Mas depois mais abraços, sem foto, sem registro, sem pausas, tocando, olhando cara a cara, sentido a temperatura. Ter um período para deixar a bateria do celular descarregar. Deixar seu tablet sentir mais falta do toque do que seu amigo. Falar e ouvir,  ler e escrever aos que estão longe. Mas tocar os que estão perto.

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Lembro-me de como eu abraçava minha mãe pelas costas enquanto ela fazia o jantar. Ela reclamava que “estava atrapalhando”, mas o sorriso denunciava que ela adorava ser interrompida. Meu irmãos faziam o mesmo é acho que hoje o fazem com a esposa. Era o toque. A tecnologia se apoderou dele e trouxe o touch. Tudo é no tato. Executar uma função está na ponta dos dedos, e eles estão bem treinados. O curioso é que parece que estamos perdemos a sensibilidade no resto do corpo.

Quando estamos no touch não sentimos o toque fora dos dedos. Ele não nos afeta.
Ha pessoas que brincam “converse sem encostar, não sou touch”.
Na verdade, elas são! Você é sensível ao toque. Mas nossa cultura criou uma reação negativa, apagando-o de nossas vidas, talvez por medo de uma invasão de privacidade.

200353956-001Pense em seus primeiros meses de vida. Você utilizou do toque para se comunicar. Através dos dedos o bebê obtém a percepção do universo à sua volta. Assim ele alcança o desenvolvimento da consciência de seu próprio corpo e o da mãe, e este é seu modo primário e fundamental de comunicação.Talvez, no fundo, quem não se acha touch esteja apenas querendo dizer… Se aproxime mais. Esteja mais perto de mim. Diminua a distância. É assim o toque fará sentido. Não me toque hoje… Se for desaparecer amanhã.

Acho que precisamos de pessoas mais touch. Que aceitem e de abraços, amassos, beijos, apertos de mãos. Pais e mães mais touch.  Filhos mais touch. Amigos muito mais touhugging_animals_08ch.
A natureza é assim!

Ricardo Amaral Rego escreveu em seu artigo “Contato com o tato” (2004) “…O contato físico carinhoso com alguém que gostamos gera desde a infância uma sensação de bem-estar, segurança e afeto em todos os mamíferos. Esse contato carinhoso é essencial para o desenvolvimento saudável de todos primatas, inclusive dos seres humanos, desde o aleitamento quando o tato é um dos sentidos mais desenvolvidos. Possui papel central na socialização de vários dos primatas e inúmeros estudos revelam como a privação desse contato causa prejuízos físicos e psicológicos mesmo em adultos”.
É mais saudável física e emocionalmente quem tem mais contato, mas relações tocantes.

As campanhas como “Free Hugs” só fazem tanto sucesso por que tem muita gente carente.  Phyllis K. Davis diz em seu livro “O Poder do Toque” (1991): “Não medimos esforços para satisfazer nossa ânsia por pele, mas nem sequer nos damos conta disso”.
A pele também comunica e “os abraços foram feitos para expressar o que as palavras deixam a desejar”. (Anne Frank)

Eu acredito que quando a pele toca, o toque chega ao principal destino, o coração.

Alessandro Poveda
Psicanalista SAC
(11) 94945-8735

 

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2 comments to “A GERAÇÃO TOUCH NÃO SE TOCA”
  1. Eu acredito plenamente no poder do abraço, me sinto muito bem qdo o faço, e tudo q foi mencionado no texto é verdade…pena realmente q muitos perderam essa livre expressão da vontade… Vejo pelos meus filhos qdo chego em casa depois de um dia de trabalho, me cumprimentam co um bjo e ficam no celular ou um tablet…nenhum abraço às vezes preciso me sentir abraçada, a quase uns dois meses atrás Eu estava passando roupa e ser repente minha filha Júlia veio me deu um abraço do nada Eu mãe pedir… Até estranhei mas senti muito feliz

  2. meu pai sempre teve muita dificuldade em abraçar os filhos… Até hoje ele nega os abraços ele só consegue dar aquele tipico abraço com “tapinha nas costas” no caso dele eu acredito que seja pela criação rústica…. mas muitas vezes em reuniões de amigos as pessoas estão mais preocupadas com quantas curtidas a foto daquele momento teve do que o simples fato de saber como todos em volta da mesa se sentem. Eu sou extremamente incomodada com pessoas que só vivem on line e também acredito no poder do abraço.. O Abraço é cabível em tantas situações que nem nós mesmos nos damos conta… presenciamos pessoas se abraçando após uma conquista, após um gol marcado, após um nascimento e após uma morte….

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