A NECESSIDADE DE DIZER NÃO

dizer não postDizer “não” é algo tão comum e necessário que nos surpreende o fato de que, para muitos, se trata de uma ação profundamente difícil. Como se houvesse uma força interior proibindo o sujeito de recusar um pedido ou ordem, em detrimento da própria escolha.
Freud discorre sobre esse eterno conflito a que estamos sujeitos por conta da dicotomia entre a vontade individual e o anseio coletivo. Abrimos mão de parte do nosso desejo em prol de um outro. Esse embate não se dá apenas na vida prática, mas também na psíquica. O conflito entre instâncias que ele chamou de ID (impulso/vontade) e Superego (Lei/Norma), cabendo ao Eu, a terceira e decisiva instância, o “voto de minerva” sobre a ação.
Um desequilíbrio na vontade pode culminar na compulsão, no desregramento, na impulsividade, na permissividade, na falta do freio social. Um desequilíbrio na Lei pode acarretar o cerceamento da liberdade, na privação, na frustração, no excesso de proibições e imperativos.
O sujeito “adaptável” será aquele capaz de realizar parcialmente suas vontades – evitando o mal-estar – dentro de condições socialmente aceitas ou minimamente controladas. O sujeito maduro BANCA o seu desejo de dizer NÃO.
Alguém pode desejar ficar nu em público, porém, se o fizer em qualquer lugar/momento, sofrerá as punições previstas. Mas esta pessoa pode, por exemplo, frequentar uma praia de nudismo. Assim, de maneira regulada e segura, obterá satisfação.
Nem sempre essa articulação é fácil e, para muitas pessoas, a norma social (a voz do grande Outro) excede a segurança e se torna PRISÃO:
“Não posso contrariar minha mãe, ela ficaria muito chateada”.
“Meu chefe me pediu para ficar até as 22h. Tive de cancelar o cinema com meu filho”.
“Meu filho EXIGIU um PC novo. Se eu não comprar ele surta”.
“Minha amiga ‘me obrigou’ a ir àquele show. Sabe como ela é, né?”
“Fulano não aceita um não como resposta”.
“Meu pai me pressionou a cursar direito. Eu queria odontologia, mas deixei pra lá”.

Perceba que estas “entidades superegóicas” nem sempre trabalham em prol da SEGURANÇA do sujeito. O outro às vezes é egoísta, despreza a alteridade, não reconhece o outro como ser integral dotado de desejo. E pessoas com tendência à submissão são seu alvo.
Dizer um NÃO, para muita gente, é um parto. Na verdade, uma gestação, porque a criança nunca nasce. Fica eternamente prenhe. Sempre há um medo… De ser criticada, retaliada, isolada. Medo de que precise do outro no futuro, medo de não ser amada, aceita, aprovada. O preço? Não ser ela mesma.
O outro pode usar de várias estratégias… Chantagem emocional, pressão psicológica, ameaças, distanciamento, barganha. O sentimento de culpa invade o sujeito e ele sede. Depois de dizer sim, sem querer, por repetidas vezes, vira um CARÁTER (de característica). Daí surge a sentença:
“Fulana é pau pra toda obra”. “Beltrana é ótima. Nunca diz não!”.

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Aquele que deseja mandar busca sempre alguém disposto a obedecer. E muitas vezes encontra.
Maria Homem já disse que “se não gostássemos de sofrer não existiria Psicanálise”.
Se você conquistou essa alcunha, entenda, não é um elogio, por mais que pareça. Há uma repetição. Em algum momento você foi cerceada da liberdade, privada da escolha, ainda que não por força. Talvez esteja na hora de visitar sua história e parir esse bebê. Dizer não é uma questão de saúde emocional.

E, para nosso desespero, não depende do outro.
Em vez de perguntar, repetidas vezes, “por que sou tratada assim?”, podemos substituir por:
“Por que me permito ser tratada assim?”. “O que desejo agindo permissivamente?”
“Por que o outro acredita que pode agir assim?” ou “O que eu perco se agir de outra forma?”
Nosso desespero é descobrir que, salvo as situações de violência, opressão e cerceamento de liberdade, nós participamos da cena. Nós nos posicionamos diante do outro.

Isso não significa que você deva abrir mão de SUAS responsabilidades profissionais, familiares, afetivas. Afinal, elas são suas. Também não significa, de maneira nenhuma, que você não possa ser prestativo e altruísta. Não é essa a questão, até porque, ajudar e ser ajudado faz parte das relações humanas. Porém, deve, necessariamente, ser uma Escolha. TUDO o que não deixa escolha é obrigação, servidão.

E você? Aprendeu a dizer não?

Alessandro Poveda
Psicanalista SAC
(11) 94945-8735

 

One comment to “A NECESSIDADE DE DIZER NÃO”
  1. Dizer n o importante para a sa de mental e emocional Aprender a falar n o pode ser importante para o equil brio emocional. As pessoas que engolem tudo e n o colocam limites s solicita es externas podem estar alimentando sua pr pria baixo auto estima, pois demonstram que n o conseguem valorizar suas necessidades e prioridades.

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