A ansiedade, como conhecemos, pode ser definida como um conjunto de sintomas físicos e psíquicos (daí o nome psicossomático), pontuais ou frequentes, motivados por razões claras ou não.
Trata-se de um fenômeno sintomático de grande amplitude e, portanto, difícil de descrever. Cada indivíduo apresenta características de maneiras distintas. Porém, alguns sintomas são recorrentes, e podemos agrupar de acordo com sua natureza:
SINTOMAS SOMÁTICOS: Sudoreses, taquicardia, hipersensibilidade, tremores, náuseas, dispneia (dificuldade em respirar), diarreia ou dor de barriga, dores no peito, sensação de fraqueza, anestesia ou hiperestesia (sensibilidade acima do normal), formigamento, paralisia, entre outros.
SINTOMAS PSÍQUICOS: Medo constante, tensão e nervosismo, insônia, irritabilidade, excesso de preocupação (com organização/limpeza, etc), descontrole dos pensamentos, dificuldade de concentração, etc.
A ansiedade pode apresentar ainda outros sintomas, dependendo do grau, do histórico do indivíduo e da razão que desencadeou o processo. Mas, antes de nos diagnosticarmos como ansiosos, é necessário compreender melhor do que estamos falando e o que pode diferenciar a ansiedade de outras modalidades de sofrimento emocional, físico e psíquico.
PERSPECTIVA FREUDIANA Por ser médico, no início Freud entendia a ansiedade de uma perspectiva orgânica, resultado da libido acumulada de maneira desregulada, quer por fatores internos ou externos, que culminaria em uma inércia de energia psíquica. O acúmulo de tensão no aparelho psíquico era tido por Freud como fator biológico para o surgimento de sintomas. Num segundo momento, Freud propunha uma nova teoria sobre a ansiedade. A ideia de que esta possuía uma base biológica e uma função, e estaria presente nos homens e animais, como uma capacidade de reação física a fenômenos externos. Na natureza é comum que animais reajam antecipadamente a determinados perigos, criando um ambiente de alerta ou urgência.
Freud faz uma divisão entre “eventos de traumáticos” e “situações de perigo”. No primeiro caso há um evento que resulta num excesso de estímulos muito além do que a psique possa dominar ou descarregar. E a primeira dessas experiências seria o próprio nascimento, partindo de um ambiente ideal, em termos de temperatura, alimentação e segurança, para um ambiente hostil, com poderosos estímulos sensoriais externos ainda desconhecidos. Isso exige da estrutura ainda em formação, um demasiado esforço para lidar com a sensação de iminente perigo.
Vale lembrar que, na impossibilidade de satisfação de seus desejos e necessidades, o bebê reage de forma a apaziguar a sensação negativa, criando uma espécie de alerta, que servirá então como recurso por toda vida. Desta forma, novas situações traumáticas poderiam desencadear reações similares.
Uma vez formadas as três estruturas psíquicas (Id, Eu, Supereu), a ansiedade se apresentará quando da impossibilidade do Eu de administrar estímulos excessivos (do ID e Supereu), como situações de perigo, exigências extremas ou desejos cuja satisfação deva ser adiada. Na perspectiva freudiana podemos dividir a ansiedade em três tipos:
Ansiedade Objetiva ou Realística: Sentimento desagradável em relação a um perigo real ou possível. Estar em um lugar perigoso, receber uma ameaça, contrair uma doença e outras situações, nos coloca diante da possibilidade real de um risco. Essa possibilidade suscitará reações psíquicas e somáticas para aplacar esse desconforto. É exatamente a situação na qual nos encontramos. Sair de casa hoje representa um risco iminente de contrair o vírus Covid-19.
Ansiedade Neurótica: Sentimento de apreensão diante de um perigo desconhecido. Esse tipo de manifestação está ligado a experiências do passado, muitas vezes ligadas a traços ou traumas, e, embora não atinjam o nível do consciente, desencadeiam um medo. Esse tipo de ansiedade pode estar relacionado tanto a desejos não satisfeitos quanto a instintos inibidos e têm relação direta com os conteúdos inconscientes, que podem, inclusive, terem sido construídos sobre uma fantasia e não pela realidade.
Ansiedade Moral: Se dá diante do conflito entre Desejo e Norma Social. A sensação envolve o medo de uma punição em função da quebra de uma norma ou negligência a uma obrigação. Podemos resumir na sentença: “sou obrigado a…” ou “sou proibido de…”. A moral introjetada na infância por meio das figuras de autoridade passam a constituir um código pelo qual passo a reger minhas ações.
Apesar de um fenômeno natural, a ansiedade pode se apresentar como problema se estiver desproporcional à situação, ou seja, em nível elevado se torna patologia. Ela pode ser dividida em níveis que nos ajudam a compreender os sintomas e pensar nas possibilidades de interpretação e tratamento, a saber: Leve, Moderada, Grave. E para entender melhor essa divisão, podemos recorrer a algumas diferenciações:
MEDO ou FOBIA: O medo se diferencia da ansiedade basicamente em dois aspectos: a) possui um objeto claro. b) Trata-se de uma experiência passível de nomear. Quem tem medo ou fobia sabe exatamente aquilo que teme, seja animal, inseto, ladrão, acidente, morte, outro indivíduo, etc. Desta forma, no medo o indivíduo pode evitar determinadas situações que o coloquem em risco. Evidentemente a fobia também possui níveis e requer tratamento quando necessário.
ANSIEDADE: Na ansiedade, embora haja um objeto, este se apresenta de modo difuso, ralo, ofuscado. O indivíduo sente medo, mas é incapaz de descrever. Relata uma sensação constante de algo de ruim pode ou vai acontecer, mas não faz ideia do que. Não sabe o que teme. A ansiedade é circundada por uma grande expectativa: Desejo muito que algo aconteça ou não aconteça / Tenho muito medo de que algo aconteça ou não aconteça. Na ansiedade o Eu perde autonomia na tomada de decisões.
ANGÚSTIA: A angústia é uma face mais extrema da ansiedade. Aqui se encontra uma crise do desejo. O lugar do desejo é reduzido. Aqui o objeto sequer é simbolizado e a libido não encontra outra forma de expressão se não o sintoma. A angústia é o que podemos definir hoje como Depressão.
Neste período de pandemia muitas pessoas têm apresentados sintomas característicos da ansiedade. Outras já apresentavam quadros e crises que, devido ao isolamento e o medo, tornaram-se mais intensos. É importante consultar um médico caso você apresente algum desses quadros pois, vale lembrar, muitos sintomas surgem de doenças que podem ser diagnosticadas por meio de exames. Caso seja constatado que não há causa orgânica/física, deve-se buscar auxílio de profissional para tratamento dos sintomas.
Neste vídeo eu falo mais sobre o assunto:
https://www.youtube.com/watch?v=EhTYoxAOSGs
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Alessandro Poveda Psicanalista SAC (11) 94945-8735