FALE SOBRE VOCÊ!

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Pessoas silenciosas têm mentes barulhentas.

Está cada vez mais difícil alcançar o equilíbrio entre o falar e o calar. Falar demais é prejudicial, falar de menos é arriscado. De um lado nossa reputação e aceitação, do outro nossa autoestima e saúde emocional. O que fazer com nossos sentimentos? A resposta pode não ser a mesma para todas as ocasiões, mas é necessário guardar alguns cuidados como, sigilo, confiança e imparcialidade. Talvez seja o momento para pensar sobre um assunto que ainda traz alguns pré conceitos:
ANÁLISE e TERAPIA.

TODOS nós temos desejos, por mais incompreendidos que sejam. Esses anseios nos levam, a todo momento, à busca por saciá-los de maneira direta ou indireta. O desejo individual nem sempre está antenado ou mesmo é aceito pela sociedade. O pai da psicanálise, Sigmund Freud, discorreu sobre o tema em vários de seus escritos. Para ele, o indivíduo teve de restringir seu prazer, resumidamente agressividade e sexualidade, para que fosse possível o convívio social, priorizando, desta forma, a segurança e redução do sofrimento. O mesmo Freud vai destacar que, essa privação invariavelmente irá demandar uma descarga de sentimentos por meio de sublimação ou deslocamento, que serão aqui chamados de SINTOMAS. No contexto desta dinâmica de civilização estão três aspectos fundamentais: angústia, agressividade e sentimento de culpa.

Trazendo esta realidade para nosso cotidiano, entendemos que nossas relações, por mais necessárias, básicas, fundamentais e até mesmo prazerosas que sejam, são também a fonte de nossas frustrações, angústias e sentimentos como raiva, ódio e rancor. Basta perceber que um indivíduo que não está minimamente ligado a nós não é capaz de suscitar frustração, já que estas partem de expectativas, e não se cria, salvo alguma exceção, expectativa sobre um desconhecido.

Agora temos então a noção de que as pessoas mais próximas de nosso convívio são as ‘maiores produtoras’ e as mais atingidas por nossos sintomas, ou seja, as mais propensas a suscitar nossos sentimentos bons e ruins. Delas podem partir nossa satisfação ou insatisfação e vice-versa. MAS, o que fazer com esse sintoma?
Bem, diante desta dinâmica, há um conflito ocorrendo no interior da psique do indivíduo, onde uma parte dela, que Freud chamou de Superego, está sempre se rebelando contra aid__ego_and_superego_by_fireworkalice-d4nyuvb outra responsável pelo desejo, o Id. Ou seja, há uma disputa entre aquilo que aprendi, vivenciei e introjetei como norma – e que passei a julgar como correto, e aquilo que sinto, desejo e busco ser, ter ou fazer – independentemente se julgo certo ou errado.
De uma forma ou de outra esse desejo recalcado ou reprimido buscará vazão, seja por meio de sonhos, comentários sarcásticos, atos falhos, lapsos de memória ou, em casos mais extremos, surtos emocionais.

Posso desejar muito comer um delicioso prato no almoço e, em seguida, acrescentar minha dose de prazer comendo uma bela sobremesa (Id), mas antes, durante e depois disso, posso ter sentimentos de culpa por achar que estou acima do peso (Superego). É provável que chame isso de ‘consciência pesada’.
15414290956_0b7bab3bcf_cEsta estrutura conflitante permeia nossas relações e vão gerar sintomas que podem chegar ao corpo em forma de patologias, o que chamamos PSICOSSOMATIZAÇÃO.
Psique (psico – alma) e soma (corpo). Assim, uma doença psicossomática é aquela que não é exclusivamente corporal, mas tem origem na alma, que podemos definir aqui como emocional. Alergias, dores de cabeça, estresse, cansaço, dores de estômago oriundas de gastrite ou úlceras, irritabilidade, distúrbios sexuais, etc. Muitas doenças podem estar ligadas a fatores emocionas frutos de sentimentos não externados. A longo prazo isso pode trazer prejuízos enormes para a saúde e o bem-estar.
“Tudo é dor, e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor”. (Renato Russo)

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A voz do inconsciente é sutil, mas ela não descansa até ser ouvida.

O QUE FAZER?
Partindo do princípio de que o recalque de sentimentos, a repressão e a frustração podem desencadear sintomas, entendemos que externar esses sentimentos é o meio mais eficaz de se livrar deles. Daí surgem algumas atividades que têm ou parecem ter características terapêuticas. Praticar artes marciais, por exemplo, pode dar vazão a sentimentos de agressividade obviamente não aceitos no âmbito profissional (sublimação); praticar ioga pode trazer o relaxamento necessário ao corpo; praticar esportes envolverá parte da libido não dispersa na atividade sexual, e assim por diante. Porém, nada mais eficaz do que ir direto ao foco do problema, ou seja, um profissional da área. “Consulte sempre um advogado. Você tem direitos. Consulte sempre um psicanalista. Você tem avessos…”
(Rubem Alves)

Nem sempre é possível dizer aquilo que está sentindo sem que haja ainda mais repressão20993093_223575871504626_274486973753168134_n e sentimento de culpa. O simples ato de dizer à mãe que a comida não estava muito saborosa ou que ela está interferindo demais na educação do neto pode gerar um clima tão desagradável que a pessoa prefere evitar. Dizer isso a uma amiga pode ser uma opção, mas nem todas as situações terão esta mesma possibilidade. Há questões extremamente complexas e difíceis de se compartilhar até mesmo com uma amiga. Imagine, por exemplo, uma mulher casada há anos que, numa determinada noite, acabou saindo com outro homem. Não será fácil encontrar um ambiente apto para externar esse tipo de ocorrência e todos os sentimentos nele envolvidos. Outras situações, como depressão, luto, violência, abusos, questões que envolvem culpa e perdão também são extremamente delicadas, daí a necessidade dos critérios citados no início do texto.

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As pulsões são, no corpo, o eco do fato de que há um dizer.

Entra em cena então a figura do psicanalista ou psicólogo. A função desses profissionais, entre outras coisas, é a de criar um ambiente seguro, privado, restrito, onde haja credibilidade para dar vazão aos sentimentos por meio da fala e, consequentemente, um rumo para o sintoma. Nem tudo pode ser dito a todos, mas tudo pode ser dito ao psicanalista.“Ela podia ser aliviada de seus sintomas se fosse induzida a expressar em palavras a fantasia emotiva pela qual se achava, no momento, dominada”. (Sigmund Freud)

Não espere até que seus sintomas se tornem patologias. E, se seu corpo já está dando sinais de somatização, trabalhe as questões envolvidas, mas não se cale. Psicanálise e Psicologia não existem para quem está, necessariamente, doente, mas para quem deseja estar cada vez mais saudável física e emocionalmente. Lembre-se:
“Os navios não afundam por causa da água em torno deles; afundam por causa da água que fica dentro deles. Não deixe o que está acontecendo em torno de você invadir seu interior e afundá-lo”.

Alessandro Poveda
Psicanalista SAC
(11) 94945-8735

 

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