ONDE FOI QUE EU ERREI?

Tenho ouvido muitos casos de mulheres comprometidas que, num determinado momento da relação, sofrem, se frustram, sentem-se largadas pelo parceiro, etc. Para muitas, é cada vez mais comum a entrega à tristeza e à baixa autoestima. Quando não encontram uma razão clara para o desinteresse masculino, grande parte delas começa a se questionar:
– Onde foi que eu errei?
– Qual é o problema comigo?
– Será que ele está com outra? Ela deve ser linda, jovem, solteira, mais ativa sexualmente.

Antes de tratar diretamente do que pode estar errado, vamos evitar o termo “culpa”. Se de fato seu marido/namorado está destratando-a, a responsabilidade é dele. Se há algo errado, ele deve dialogar, apresentar a queixa, discutir e encontrar conjuntamente uma solução. Mas nem sempre isso é fácil.
É necessário fazer uma distinção entre um homem que age de forma ética e alguém que não se importa e não possui responsabilidade afetiva para que você não assuma uma falha que não é sua. Considerando a instabilidade de muitos relacionamentos, é comum que a sensação de estar em falta paire a cabeça da mulher. Para piorar, o imaginário popular ainda carrega a crença de que (quase) todo homem deseja ardentemente se relacionar com uma “gostosa” (hoje “influencer” digital). Não que isso seja problema. Mas não é uma unanimidade nem um valor absoluto.

Então, as mulheres que não se enquadram nesse perfil – ainda que não desejem se enquadrar – se sentem acuadas. Podem sentir que a luta é desigual, que beleza física e subjetiva (na maioria das vezes artificial) vence facilmente os demais atributos: inteligência, determinação, competência, honestidade, fidelidade, respeito e beleza razoavelmente natural.

Claro, não sejamos hipócritas. Homens admiram a beleza feminina e muitos parecem preferir o modelo midiático, assim como mulheres que se derretem por galãs. Esses padrões também influenciam a autoimagem, muitas veze fazendo-os copiar estilos de homens de sucesso. Mas também não podemos negar que, se para um homem esse é definitivamente o atributo principal e indispensável, ele talvez não seja o tipo de homem que com quem você queira dividir toda sua vida e história. Para ambos a beleza não durará para sempre. Ela tem valor quando faz parte de um conjunto.

Há uma “fase imatura” em grande parte dos homens na qual procuram mulheres para transar e colocar numa lista – como as de cerveja que ele já bebeu. Como moleques que colecionam games ou outro tipo de disputa em que um troféu esteja em jogo. E não creio que uma mulher queira ser um troféu. Esses dão adeus às 6:00 horas da manhã, não se relacionam, não se interessam por seu universo, e não telefonam novamente (a menos que precisem novamente de sexo). O tempo é um bom aliado para revelar esse tipo de personalidade. Se demora muito para obter alguma vantagem, eles pulam fora.

Agora, pense em homens que desejam de verdade relacionar-se com mulheres. Esses não buscam compromisso com uma boneca. Não se casam com “barbies”, não por essa razão. Não se casam com máquinas de fazer sexo, academia e compras. Eles, conscientemente ou não, se casam com mulheres FORTES, FIRMES, DECIDIDAS, AUTÔNOMAS, TRABALHADORAS, INTELIGENTES E BELAS à sua maneira. E elas não têm esses atributos por causa deles, mas por causa de si mesmas. Nas palavras da atriz Dolores Del Rio “Desde que uma mulher tenha brilho nos olhos, nenhum homem irá reparar se ela tem rugas em volta deles”. Aliás, esses atributos também são necessários nos homens.

Ok, isso não ameniza a dor de quem se sente largada ou traída. E é aqui que entramos numa outra leitura. Um recorte dentro de um universo específico.
Quero deixar claro que, a partir daqui, não estarei dizendo que a culpa é da mulher. Este texto é para mulheres que já se sentem culpadas (talvez sem razão) e que desejam entender melhor sua própria situação ao ponto de encontrar falhas e trabalhar as soluções.

Você, que acredita não ter se casado com um “menino grande”, apenas com um homem com traços de imaturidade, e que sente rejeitada e se culpa, onde acha que falhou?
Se você está se culpando, responda as perguntas:
Por que ele se apaixonou por você?
O que você tinha, e não tem mais? O que você era, e não é mais?
O que fazia, e não faz mais? O que sentia, e não sente mais?
Escolha se as afirmativas lhe servem ou não:
Você era você! Tinha vida própria!
Você fazia planos. Talvez manifestasse um pouco de amor próprio.
Ele se apaixonou pela mulher que resolvia problemas. Que parecei não precisar dele pra ser feliz.

A mulher que fazia planos, tinha projetos, metas, vontades. Que estudava, trabalhava (em casa ou não), que queria conhecer o mundo, falar novas línguas, que queria conhecer um cara legal e inteligente. Alguém que a ensinasse e que aprendesse com ela. A pergunta é: Você ainda é esta mulher?
O que você aprendeu com ele? Mais do que isso, o que ensinou a ele?
Você, que se casou, responda. Quem organizou o evento?
Quem cuidou da decoração, da comida, dos convidados, dos trajes, da logística?
Quem preparou a casa? Escolheu as cores, escolheu os móveis?
Quem se produziu? Escolheu um corte de cabelo e uma cor legal, uma lingerie, um pijama para dias frios? Quem cuidou das finanças, planejou as compras?
Não é uma indicação de que a mulher seja uma empregada, funcionária ou mãe. Estamos falando da mulher que faz as coisas especialmente para si mesma, e porque deseja.
Se você as fez, imagino que seja competente. Significa que fez e faz bem o que se propõe a fazer.
Onde está esta mulher? Não estamos falando de beleza física e corpo escultural. Se possui esses atributos, ótimo. Se não possui, não foi por eles que ele se casou contigo. Ele deve ter tido outras relações, talvez com mulheres esculturais, mas não se casou com elas. Já se perguntou a razão?

Ele está com você! E, a menos que você o tenha enganado fingindo ser o que não era, ou que ele tenha sido obrigado a casar, é com você que ele deseja estar.

Mas não basta que ele ame você. Você deveria fazer o mesmo, se amar.
Você ainda é aquela mulher decidida e cheia de planos pessoais?
As tarefas de casa e os filhos fizeram você enfraquecer?
Ele não te ajuda? Se não, o erro pode estar aí. Você provavelmente está sobrecarregada.
Nesse caso, precisa se impor e mostrar que você quer ter vida além das atividades.
A maioria das relações possui uma distribuição desigual de tarefas. E infelizmente a mudança não se dará espontaneamente por ele. Talvez ele vai lembrar de você apenas quando você fizer o mesmo.

Quais são seus planos? Onde quer estar daqui a 2 ou 10 anos?
Com quem? Fazendo o que? Quais são suas vontades?
– Eu gosto de azul. Eu gosto de comida chinesa. Eu gosto de sair em dias frios. Gosto de andar a cavalo no interior. É preciso ter opinião e ser capaz de decidir.
Já ouvi homens reclamando por que a mulher não tinha opinião. Não decidia nada. Ele pergunta “sopa, comida ou lanche”? Ela diz “tanto faz” ou “você é quem sabe”. Vai deixar alguém decidir por você? Sempre?

Não é de bom tom que a mulher tome decisões pautada pelo que o homem pensa ou gosta. Mas também seria hipocrisia achar que ela vai atingir um grau de indiferença tal que não se importe nada com isso. Assim sendo, se deseja entender melhor como boa parte dos homens funciona nesse aspecto, saiba que eles querem desafios. Vivem de desafios, disputas, embates.
Salvo o comportamento patológico, não é normal sentir ciúmes de alguém que está presa, dominada, enfeitiçada de amor cego. Nenhum homem nesse recorte quer uma mulher que não o deixaria de forma alguma, mesmo que fizesse uma grande besteira. Homens querem ter a certeza de que você é capaz de viver e ser feliz, mesmo que ele seja abduzido por alienígenas.

Num dos episódios de “Two and A Half Men”, uma bela moça (Mia) estava apaixonada pelo protagonista Charlie Harper (o canalha). Ela passou todo o episódio tentando fazê-lo ser um homem melhor. Ele só queria saber de bebidas, jogos, charutos, sexo, apostas e nada de relacionamento sério. Ele não conseguiu largar seus vícios e se irritou com a tentativa dela.
O que ela fez? Mesmo apaixonada, caiu fora. Ele acabou indo atrás dela e encontrou um bilhete que dizia a frase que seria ótimo ter sempre em mente:
“Charlie. Queria que ficássemos juntos. Eu te amo demais para querer mudá-lo.
Mas eu me amo demais para aceitá-lo do jeito que você é”.

Conhece alguém com essa coragem?
Pode ser que seu caso não tenha a ver com separação. Mas uma lição deve ser aplicada.
“EU ME AMO DEMAIS PARA…”.
Eu me amo demais para não tomar decisões pessoais.
Eu me amo demais para não ter um tempo para mim.
Eu me amo demais para cuidar simplesmente da casa e dos filhos.
Eu me amo demais para sofrer calada dentro de casa.
Eu me amo demais para deixar de ser quem eu sou.
Eu me amo demais para me privar de ter orgasmos.
Eu me amo demais para me privar de viajar e ser feliz.
Eu me amo demais para ser simplesmente uma mistura de faxineira, babá e mamãe.
Eu sou uma esposa, não uma máquina.
Eu quero um homem para dividir experiências, não para observá-las.

Qual é a sua frase? Pode ser que ela não esteja aí. Coloque uma pulga atrás da orelha dele.
Mostre sua autonomia e pareça a mulher por quem ele se apaixonou…
Ou por quem outro vai se apaixonar!
Se você ainda acha que uma aparência física é o mais relevante e que mulher linda não passa por esses problemas, se você acha que o problema está em você, por não parecer atriz de novela, pesquise sobre mulheres frustradas, tristes e carentes. Os consultórios estão cheios de mulheres lindas, magras, maquiadas, honestas, fiéis, educadas, amorosas, inteligentes, trabalhadoras.
Então, qual é o problema delas?
Eu não tenho a resposta. Mas podemos suscitar hipóteses. Ou se casaram com babacas infantis que não valorizam uma mulher ou, pode ser que elas sejam tudo isso, mas esqueceram de si mesmas e viveram em função da vida do outro. Perderam sua identidade e se tornaram desinteressantes não para ele, mas para si mesmas.

Você está mais preocupada com o que ele faz durante o dia do que com o que você faz?
Quando foi a última vez que se dedicou a si mesma? Quando foi a última vez que leu um livro? Qual era? Quem foi o autor? O que aprendeu? Quando foi a última vez que o chamou para ir num lugar onde você gosta de jantar? Quando foi a última vez que você se interessou pelos estudos? Quando foi que discordou dele? Quando foi que ouviu uma música ou artista novo? Quando foi a última vez que fez uma oração pensando em você e em seus projetos? Quando foi a última vez que sorriu por um motivo seu?
Homens também amam sorrisos de uma mulher. Mas isso não significa que você deve sorrir por causa deles, mas por causa de você. Ninguém quer sair de casa com uma pessoa sem identidade, seja homem ou mulher.

Acho muito provável que ele esteja falhando. Mas, se você sente que também está, analise sob esta ótica. Sei que é um exercício difícil. Mas tente sorrir e mostrar força em meios às dificuldades. Sua força e seu sorriso irão atraí-lo e, mais do que isso, irão resgatá-la. “Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a fazer.” (Carlos Drummond de Andrade)
Do que você é capaz?

É possível um homem passar a vida toda apaixonado pela mesma mulher…
Se ela tiver as mesmas virtudes que ele identificou, conheceu e admirou.

NÃO HÁ MULHER MAIS IRRESISTÍVEL DO QUE UMA MULHER QUE SE AMA.

Alessandro Poveda
Psicanalista SAC
(11) 94945-8735