DIA DOS PAIS – A sociedade precisa deles.

Imagem1 (2)“Ter filhos significa avaliar o bem-estar de outro ser, mais fraco e dependente, em relação ao nosso próprio conforto. A autonomia de nossas preferências tende a ser comprometida, e continuamente: ano após ano, dia após dia. A pessoa pode tornar-se ‘dependente’. Ter filhos pode significar a necessidade de diminuir as ambições pessoais […] significa aceitar essa dependência divisora da lealdade por um tempo indefinido, aceitando o compromisso amplo e irrevogável, sem uma cláusula adicional ‘até segunda ordem’…” (Zygmunt Bauman)

A importância da presença da mãe no desenvolvimento de um filho, especialmente nos primeiros meses de vida, é inquestionável. Os impactos de sua ausência deixam marcas profundas e muitas vezes irremediáveis. De maneira semelhante, presença ou ausência da figura do pai serão também determinantes para a constituição psíquica de uma criança e seu senso de identidade e alteridade.

Devido altos índices de abandono de crianças por parte dos pais biológicos, além de outros fatores como separação dos pais e falecimento, de alguma maneira, a sociedade parece ter desenvolvido certa tolerância, resiliência ou mesmo uma espécie de subestimação dos resultados catastróficos desta distância/ausência, tanto individuais quanto sociais.

A função do pai vai muito além de cocriar o filho. Vai muito além de dar suporte à mãe. Vai muito além de ser responsável pelo cuidado. O pai tem incumbências próprias, um papel próprio. O bebê enxerga o mundo pelos olhos da mãe, isto é, a mãe, gradativamente, o apresenta ao mundo e apresenta a ele o mundo. Neste mundo exterior e desconhecido encontra-se o PAI. Ele será aquele que vai legitimar a ação do filho e que servirá também de modelo, de parâmetro de como se articular neste mundo. A mãe apresenta, o pai sanciona. Freud postula que o mal-estar surge da necessidade de reprimirmos nossos desejos individuais em prol do desenvolvimento da civilização. O caminho então para evitar a angústia é adequar o desejo às normas sociais. Esse processo de assimilação e sublimação do desejo é construído na figura do pai. Ele é o impedimento, o interdito, aquele que separa o filho de sua mãe para que este esteja paulatinamente apto para viver e sobreviver sob a lei.

“A primeira exigência da civilização, portanto, é a da justiça, ou seja, a garantia de que uma lei, uma vez criada, não será violada em favor de um indivíduo. […] O resultado final seria um estatuto legal para o qual todos – exceto os incapazes de ingressar numa comunidade – contribuíram com um sacrifício de seus instintos” . (Sigmund Freud).

Freud menciona que há uma exceção ao estabelecimento na norma, os “incapazes”, dentre esses, estão os que não estão aptos a compreender, assimilar e, principalmente, respeitar regras. É aqui que a função paterna (que, vale lembrar, pode ser exercida por outra pessoa), se mostra como essencial para o núcleo social.

Quando o pai surge na vida do bebê, como um terceiro, como a terceira ponta de uma triangulação, ele é apresentado a este novo universo. Por meio de erros e acertos, dos diversos sim e não, das possibilidades e impossibilidades, ele se torna capaz de construir sua própria história. A ausência deste terceiro reduz consideravelmente os recursos de assimilação e articulação com a lei. Sobre este quadro, algumas estatísticas nos fornecem demonstrações práticas.

Um estudo do Ministério Público de São Paulo sobre a criminalidade entre jovens de 12 a 18 anos, realizado em 2016, revelava que 2 em cada 3 infratores não moravam com o pai.Imagem1 Sendo que 42% sequer o conheciam. O mesmo estudo revela também que 37% deles tinham parentes próximos com antecedentes criminais*. Embora seja um recorte, a amostra reflete a realidade em muitos outros locais. A combinação de fatores sociais com experiências pessoais negativas é determinante para o futuro de uma criança, e pode revelar se estamos produzindo o cidadão ou um infrator.

“…Na maioria dos seres humanos, tanto hoje como nos tempos primitivos, a necessidade de se apoiar numa autoridade de qualquer espécie é tão imperativa que seu mundo desmorona se essa autoridade é ameaçada”. (Sigmund Freud)

Se faltam limites, ética, moral e princípios em nossa sociedade, isso se deve em bom número ao declínio da figura do pai como agente modelo e regulador da vida da criança.

Bons pais, a sociedade precisa de vocês! Feliz Dia dos Pais!

Fonte: Folha de São Paulo – Cotidiano – 27/06/2016.

Alessandro Poveda
Psicanalista SAC
(11) 94945-8735

 

, , ,

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *