Em meio a uma geração movida pela pressa, pela ansiedade e pelo prazer imediato, é cada vez mais comum que pessoas fujam de relacionamentos mais sérios. O ficar deixou status de estágio pré-namoro e, para muitos jovens, virou estilo de vida. Muitos fatores contribuíram para que o namoro perdesse o brilho que ostentava em outras épocas. A desconfiança, as frustrações, os exemplos mal sucedidos, a sensação de perda de liberdade são alguns deles. Mesmo assim existem aqueles que conseguem superar essas adversidades e estabelecem um vínculo de amizade, cumplicidade, afeto e, especialmente, amor. Por esta razão, a data, que poderia estar fadada ao fracasso, parece ganhar fôlego novo.
Quando ambos estão afim e dispostos, o namoro se torna algo especial. Uma fase de descobertas e também de crescimento e desenvolvimento. No namoro aprendemos a dividir nosso tempo, tolerar defeitos, admirar qualidades e trocar experiências. Na fase da adolescência o namoro vai testar nossa paciência, nosso apego e nossa habilidade em lidar com alguém ‘desconhecido’. O primeiro namoro nos tira das asas dos pais e nos faz testar a competência que tivemos em superar as fases do desenvolvimento psicossocial e começar a caminhar com as próprias pernas.
Evidentemente é mais fácil que estas primeiras relações deem errado do que certo. Afinal, relacionamento é a ligação afetiva, sentimental e/ou sexual entre duas pessoas que possuem genética, criação, hábitos e histórias distintas e, portanto, são diferentes em essência. É como montar dois cubos mágicos ao mesmo tempo enquanto estão unidos. Por vezes trará a felicidade de um encaixe perfeito, enquanto em outros momentos dará a impressão de que nada funciona.
QUEM JÁ NAMOROU sabe que não se trata de viajar por uma estrada livre, limpa e sem curvas. O caminho é cheio de pedras, buracos e bifurcações. Mas, não é assim em todas as relações? Como nos relacionamos com nossos pais, irmãos, filhos, amigos e colegas de trabalho? Como nos relacionamos com noras, genros, sogros e cunhados? Como nos relacionamos com vizinhos, patrões e profissionais que contratamos? Já notou que há conflitos mesmo quando há bons sentimentos envolvidos? Por que seria diferente no namoro? É necessário tolerar essa ambivalência de sentimentos. Aceitar que eles fazem parte do Eu e nos responsabilizarmos. Isso abre caminho para a alteridade, a diferenciação primordial de que o outro não é uma extensão de mim.
É insanidade desejar um namoro de conto de fadas, pois nem você e nem seu namorado são atores na relação (pelo menos não deveriam). Namoro é feito com pessoas de verdade, cheias de sentimentos ambíguos, desejos individuais, particularidades e mesmo algumas esquisitices. É importante não exagerar na dose de tolerância. Já tratamos disso quando abordamos as razões por que relacionamentos não dão certo. O namoro nos dá experiência, mas nem por isso vamos pagar o preço de sermos maltratados. Nem 8 nem 80.
Para aquelas que tiveram experiências ruins, o importante é não projetar as futuras relações com base em uma experiência mal sucedida. O fato de um ou mais namoros terem fracassado deve soar um alerta para a forma como escolhemos o parceiro ou a maneira que conduzimos a relação, mas não deve servir de bloqueio para evitar a próxima.
Para quem deseja tentar de novo, deixo essas dicas.
Freud entendia que o indivíduo é razoavelmente saudável quando capaz de duas coisas básicas: trabalhar e amar. Winnicott acrescenta a isso a capacidade de viver criativamente, que o ajuda a dar conta do seu sofrimento utilizando experiências positivas. Se observarmos com atenção essas duas coisas ocupam grande parte do nosso tempo. Ou você está trabalhando ou está amando. Sendo bem reducionista e um pouco sarcástico, ou você quer um emprego ou namorado, ou trocar de um dos dois. Amar é necessário. Pelo menos no sentido mais amplo.
Então sou obrigada a ter uma relação? Não necessariamente. Se você está satisfeita e bem consigo mesma estando solteira, quem pode questionar sua decisão?
Porém se você deseja se relacionar, gostaria de estar com alguém, mas por alguma razão bloqueia esse sentimento, é provável que desenvolva um sintoma. Afinal nossas angústias são frutos justamente de sentimentos não externados. Não somos ilhas, e “evitar a felicidade com medo que ela se acabe é o melhor meio de ser infeliz”.
Muitas mulheres se privam de amar, especialmente por causa de decepções anteriores. Muitas foram traídas, maltratadas ou humilhadas. Por conta disso criam uma autodefesa e chegam até a sabotar qualquer possibilidade de vínculo. Pode parecer mais seguro, mas isso trará implicações. Os sintomas aparecem. Se você não está pronta para um relacionamento por conta das feridas, busque ajuda, busque auxílio. Externe seus sentimentos. Mas simplesmente evitar se relacionar não fará de você uma pessoa mais feliz. Nas palavras de Dostoiévski “Às vezes o homem prefere o sofrimento à paixão”.
É sinal de maturidade perceber a si mesma, perceber o outro e entender que o prazer é fruto da relação entre esses dois seres. Esse prazer que ocorre do encontro de duas pessoas com diferentes histórias é que faz com que ano após ano, mesmo com todas as dificuldades, as pessoas continuem a comemorar esta etapa da vida chamada namoro.
Que seja um dia para celebrar as experiências, o desenvolvimento e o amor.
Permita-se amar.
Alessandro Poveda Psicanalista SAC (11) 94945-8735