VOCÊ DEIXOU TUDO POR ELE?

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“Eu deixei larguei tudo por ele, e ele me deixou”.
Quantas histórias começam ou terminam com esta sentença?

Independentemente da classe econômica, etnia, crença ou personalidade, sempre encontramos registros casos que parecem roteiros de filme ou novela, porém sem o tal final feliz: “Ele me deixou”. Quando uma mulher utiliza a afirmativa “eu deixei tudo por ele” me vêm à mente algumas questões da própria frase, analisada em sua construção, e são elas que formulam a base para uma reflexão sobre o caso.

EU
Quem está falando? De que “eu” estamos falando? Qual é a historia e o histórico por trás dele? Parece uma pergunta sem sentido, mas na verdade ela está na base. Por mais incrível e triste que possa parecer muitas pessoas não sabem de fato quem são. Autoimagem é algo construído, não vem pronto. E a maneira como você se vê é fruto de como te viram em algum momento de sua história. Tenho ouvido muitas mulheres que parecem ter perdido um pouco ou muito de sua identidade. As pressões, dificuldades e a busca pela felicidade parecem desgastar aquilo que de fato ela é. E o resultado disso é que muitas se esforçam para ser o que querem que ela seja. “A autoimagem é a essência da personalidade e do comportamento humano. Mude a autoimagem, e ambos serão transformados”. (Maxwell Maltz)

DEIXEI TUDO
O que é esse tudo? O que você era, fazia ou tinha antes dele? E depois?
Parece haver uma tendência a valorizar o que é do outro em detrimento do que é nosso. A velha história da “grama do vizinho sempre mais verde”. Quando uma mulher deixa tudo, temos de avaliar o que exatamente é tudo e que isso representa.
Os pais? Aqueles que a criaram, bem ou mal, mas que foram responsáveis por sua sobrevivência.
A família? Irmãos, tios, primos. Aqueles que possuem vínculo biológico e conviveram durante a infância.deixe ir
O emprego? Talvez um cargo que ela não tinha prazer em ocupar, ou uma carreira que levou anos para construir.
O lar? Muitas mudam de rua, de bairro, de cidade, estado ou país por causa de uma paixão. Deixam amigos, vizinhos, história, cultura e cotidiano.
Amigos? Muitas vezes a questão não é a distância física. Muitas deixam seus amigos como condição para que possam entrar num relacionamento.
Bens? Cartões de crédito, dinheiro, carro, casa. Muitas investem numa relação como um profissional faz com suas finanças.
Liberdade? Tudo o que fazia de maneira espontânea e desprendida.
Boa parte disso pode ser resumida na palavra PRAZER. O prazer de viver.
O que você deixou? Que valor isso tinha? Que valor tem hoje?
“O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos. (Luis Fernando Veríssimo) 

POR ELE
Quem é ele? O que ele queria? O que ele pensava sobre isso?
O que ele faria se você agisse diferente?
O homem pode ser manipulador, egoísta, centralizador, exclusivista, machista… Nesses casos é comum que ele exija uma serie de coisas. Mas também temos homens que respeitam a autonomia da mulher e que, em nenhum momento, aprovariam a ideia de que ela abandonasse aquilo que é, pensa e faz.
Diante disso, você deve se questionar o que ELE queria.
Em que momento foi determinado que você deveria deixar tudo?
Esta foi uma exigência de quem?
Perdi a conta de quantas vezes uma mulher fez algo julgando que era isso que ele desejava, mas sem questionar o que ela desejava. Uma vez levantadas essas questões, temos de refletir. Que tipo de homem força que uma mulher deixe tudo aquilo que a constitui para que esteja com ela? Por acaso não queremos estar com uma pessoa justamente pelo que ela é? Quando alguém ama de verdade ama a pessoa real, não a potencial. Se eu amar você com a condição de que você deixe sua essência, estou me relacionando com minhas imagens. Estou projetando.

Claro que algumas situações fogem do controle, como quando ocorre uma paixão entre pessoas de lugares muito distantes. Nesse caso, deve-se estudar se vale à pena seguir adiante e qual a melhor forma de unirem esse universo. Mas não é desse tipo de caso que estamos nos referindo. Falamos de pessoas que não possuem razões para abrir mão de toda uma vida, mas que assim o fazem.
Salvo exceções, uma mulher que ama quem ela é, o que faz, e o que pensa, não facilmente abrirá mão de si mesma em troca de um relacionamento, a menos é claro, que ela esteja tomada de uma paixão patológica.

Sim, o efeito da paixão pode ser avassalador e intenso, e ele possui esse poder transformador. Mas o que desperta nossa dúvida é o porquê de as bases afetivas contidas na história desta mulher não terem sido capazes de mantê-la em segurança ou, pelo menos, dentro de um padrão de equilíbrio entre a razão e emoção. Os fatores podem ser os mais diversos mas é muito provável que a resposta esteja na sombra do passado. O próprio modelo masculino idealizado pode ser uma cilada.

Se você, infelizmente, deixou tudo por alguém que a deixou, é hora de jungrafico-pizzatar os cacos e recomeçar. “Chorar um rio, construir uma ponte, passar sobre ela”.
Retomar os valores que possui, os laços, os vínculos, os prazeres e olhar novamente para si mesma. Se não é seu caso, valorize muito o que você é, construa uma base sólida sobre as pessoas e coisas importantes para você hoje… Família, carreira, bens, religião, valores, sonhos. E se alguém quiser navegar pelo mundo com você, que entre em seu barco.

“A melhor maneira de ser feliz com alguém é aprender a ser feliz sozinho. Daí a companhia será questão de escolha e não de necessidade.” (Jô Soares)

Alessandro Poveda
Psicanalista SAC
(11) 94945-8735
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