O que faz uma relação dar certo?
Pergunta complexa. Não tenho a pretensão de responder de maneira simples ou de elaborar uma receita. Não existem receitas. O que funciona para um casal pode não surtir o menor efeito para outro. Também temos de lembrar que relacionamentos são dinâmicos. Pode ser que num determinado momento seja necessário uma atitude, mas apenas para aquela ocasião ou num curto espaço de tempo. Em outra ocasião a saída de um conflito pode ser outra. Mas, mesmo diante desta complexidade, arrisco-me a enumerar alguns itens que, salvo exceções, constituem o mínimo que se deve observar quando se ingressa num relacionamento.
Há alguns meses postei um texto cujo foco era mostrar alguns dos principais inimigos do êxito na relação. Aqueles ingredientes que praticamente garantem que a união vai fracassar. Desta vez apresento o básico de um princípio de relação:
DISPOSIÇÃO
Nem sempre os opostos se atraem, como ouvimos com frequência. Mas sei que “os dispostos se mantêm”. Se por um lado é preciso certa dose de diferenças para que criar uma excitação e uma sensação de completude no relacionamento, por outro também é verdade que essas diferenças farão com que ambos tenham de se movimentar, fazer concessões e reivindicações. É natural que em algum momento uma das partes tenha de ceder a uma de suas vontades em prol do outro. Sem a disposição para mudanças e adaptações a relação será individualista e egoísta. O prazer é fruto da sinergia entre os dois. “Eduardo e Mônica” não seriam felizes se não tivessem enfrentado tantas adversidades juntos.
EXPECTATIVAS SENSATAS
O que você deseja do outro? O que ele deseja de você?
O que espera desta relação? O que aceita?
Boa parte das relações chega ao fim precocemente pelo simples fato de que a expectativa não condizia com o que a realidade apontava. Ingressar uma relação acreditando que o outro não tem defeitos, que vai suprir todas as suas necessidades, que nunca vai falhar ou que vai preencher um vazio ou frustração do passado é se relacionar com uma projeção e não com um indivíduo. Já vimos que essas características soam como patologia. É importante lembrar da autonomia e individualidade do parceiro. Se por alguma razão não estiver viável, é melhor jogar limpo. Mas não é salutar acreditar que pode ou deve transformá-lo em outra pessoa. Expectativas sensatas nos colocam mais próximos da realidade. Quantas vezes a mulher acredita ter encontrado “o homem de sua vida”, mas, ao final da relação, pensa: “que raio eu vi nele?”
AUTOCONHECIMENTO
Relacionamento é a ligação afetiva, sentimental, sexual e/ou familiar entre duas pessoas. Estas duas pessoas possuem genética e histórias distintas e, portanto, são diferentes em essência. Um dos grandes problemas que dificultam a relação para boa parte das mulheres não é o falta de conhecimento sobre o outro, pois nisso todas podem se esforçar para atingir. O problema maior reside na falta de conhecimento de si mesma. Conhecer a si mesma não é tarefa fácil. Como já vimos em outros textos, existe o inconsciente e ele exerce um poder incalculável sobre nossas ações, mas é possível aprender a interpretar seus sentimentos, suas sensações e suas atitudes afim de não descarregar no outro algo que provém do passado, que está guardado em nossa mente, e interfere hoje na maneira como nos relacionamos. Já imaginou um homem se questionando:
“Como vou entender uma mulher que às vezes diz que nem ela se entende?”
SENTIMENTOS
Algum tipo de sentimento deve existir. Amor, afeto, admiração, atração, carinho ou mesmo a “patologia” denominada paixão. Algo no outro deve causar sensações em mim. Estas sensações viabilizam uma relação, uma troca de experiências físicas, químicas e emocionais. Cada vez mais vemos relacionamentos opacos, desbotados, sem brilho, sem fogo, sem libido. Estar com alguém por estar traz mais danos do que benefícios e isso para ambos. É possível suscitar uma chama numa relação, mas é necessário que haja ao menos uma pequena brasa nos corações. “Se é a razão que faz o homem, é o sentimento que o conduz”. (Jean-Jacques Rousseau)
INVESTIMENTO
Namoro ou casamento é uma relação de troca. Troca de sentimentos, sensações, toques, tempo, conhecimento, experiências, bens tangíveis e não tangíveis, famílias e amigos, trabalhos, responsabilidades. Uma vez no relacionamento, passamos o tempo todo investindo. E só pode investir quem tem. Ninguém pode dar aquilo que nunca recebeu. Ninguém ensina o que nunca aprendeu. Por isso, é importante estar cheio de virtudes para poder despejar pequenas doses diárias ao seu parceiro, ao passo que ele deverá fazer o mesmo. Assim a relação estará numa crescente e não numa crise.
O investimento não visa apenas o outro, mas especialmente você. Cuidar do corpo, da alma e da mente traz resultados para você e para ele. Mesmo que você não perceba, sua ascensão profissional, seu desenvolvimento intelectual, seu cuidado com a saúde e a beleza enriquecem sua bagagem de qualidade para o relacionamento.
“Não se pode investir no que se quer mais adiante, quando se tem o coração preso ao que ficou para trás!” (Reinaldo Ribeiro)
Alessandro Poveda Psicanalista SAC (11) 94945-8735
Amei as dicas
Gostaria de mais esclarecimentos no que tange o texto CORAÇÃO PRESO. …
Olá, Maria!
Vamos lá…
Tudo aqui com que nos relacionamos exige de nós um gasto de energia. Seja um pessoa, um bem material, um ofício, um trabalho, estudos, lazer. Cada um desses ‘objetos’ demanda energia e tempo. Quando por alguma razão nos separamos disso, como perda de emprego, separação de um relacionamento, mudança de uma cidade para um lugar distante, etc, é necessário produzir um LUTO sobre isso. Ou seja, reconhecer que o objeto foi perdido, que não há mais volta, que não posso alterar os fatos, corrigir o passado. Mas devo sim construir um futuro a partir daí. Quando fico preso a este passado, não libero energia para dispender para outros objetos.