POSIÇÃO DO SUJEITO DIANTE DO OBJETO

Imagem1Melaine Klein é uma respeitada psicanalista que aprofundou os estudos de Freud voltados para o desenvolvimento infantil. Sua contribuição tem considerável importância por fornecer novas possibilidades de interpretação – baseadas nos primeiros meses de vida – sobre maneira como nos relacionamos com a realidade na vida adulta.
Segundo ela, para lidar com a realidade ainda desconhecida, as crianças desenvolvem fantasias que servirão de estrutura para compor sua maneira de se relacionar com objetos exteriores (Relação Objetal). Isso ocorre devido ao fato de o pensamento racional ainda não estar plenamente desenvolvido.

Klein sugere que, nesse período, a criança funciona por meio de POSIÇÕES que determinam suas sensações, sentimentos e percepções do universo a sua volta. As posições são dinâmicas psíquicas que vão se alternando ao longo da vida e geram maneiras de ser e de viver experiências com o mundo.
Existe uma alternância entre as duas posições, dependendo sempre da capacidade do ego de suportar as angústias fruto dos aspectos ambivalentes da experiência. Estas formas de organização psíquica permanecem durante toda a vida.

POSIÇÃO ESQUIZOPARANÓIDE: o primeiro recurso do bebê para estruturar suas experiências. Nessa posição há uma divisão do ego. Dois lados opostos agindo de acordo com mecanismos de defesa: O Bom, gratifica; o Mau, frustra.
A posição esquizoparanóide não enxerga o objeto como uma unidade. Amor e ódio são experimentados isoladamente. Não há reflexão no pensamento, além de não haver condições psíquicas de lidar com o desconforto. Uma vez nesta posição, a criança fará uso de mecanismos de defesa primitivos, como cisão, projeção, introjeção, negação e identificação projetiva.

A fantasia de não ser capaz de dar conta e de conviver com os aspebem-x-malctos contraditórios de si mesmo e do objeto faz com que, em fantasia, haja uma tendência a expulsar as experiências más, enxergando-as fora de si, e ao mesmo tempo incorporar e identificar-se com as experiências sentidas como boas. Desta forma a ansiedade dominante é a de perseguição (paranóide) e o estado dominante do ego é fragmentado e dividido (esquizo).

Pensando agora num indivíduo adulto, uma vez atuante na posição esquizoparanóide, o sujeito opera sob a lógica de que aquilo que sente como ruim, negativo e desagradável, não lhe pertence, não faz parte dele, não é da sua responsabilidade. E o que é bom, positivo, agradável é seu, lhe pertence, faz parte dele. Ele estrutura suas percepções do mundo separando o objeto “bom”, e que ele tenta ser e possuir (por introjeção), e “mau” – que ele expulsa e localiza fora de si (por projeção).

Melaine Klein não sabia, mas estava descrevendo o comportamento de boa parte eleitorado brasileiro na atualidade. Parafraseando o título deste texto: A posição do SUJEITO eleitor, diante do OBJETO candidato.
De um lado o bom, honesto, correto, direito, aceitável, justo. Aquele que é digno não só1_ts0UYkHXZuqJ82_06HDc-A de voto, mas de adoração, veneração – por meio da introjeção.
Do outro o mau, corrupto, errado, inaceitável, injusto. Aquele que é digno não só de derrota nas urnas, mas de desprezo, escárnio e insulto – por meio da projeção.
O bom é bom como eu. O mau é mau como o outro. E assim está fragmentado o objeto. Eu não o enxergo como uma unidade. Não me ocorre em momento algum que o bom possa também ter seu lado negativo. Da mesma forma, não me ocorre que o mau possa ter também um lado positivo.

Esta posição primitiva quase sempre culmina numa polarização extrema onde o outro é visto como inimigo, e não como alguém que possui uma história diferente. O indivíduo enxerga o país e o mundo sob uma ótica estritamente pessoal, e quem não enxerga como ele, está errado. E o exercício que propõe este texto é deixar esta posição, que resulta na clivagem e nos faz “atacar o seio mau”.

Um pouco de maturidade traz a clareza de que há motivos suficientes para escolher e não escolher quaisquer dos candidatos do pleito e, da mesma forma, histórias de vida diversas promovem pontos de vista divergentes, não necessariamente corretos ou incorretos. A maioria dos eleitores que votaram em candidatos A e B ou se abstiveram tinham uma mesma intenção, buscar o melhor. Porém cada um escolheu de acordo com seus anseios e referenciais (ainda que enganosos).

Sem título-1É importante pensar que o outro é um ser integral, dotado de sentimentos, pensamentos e ações boas e ruins, assim como eu. Desta forma assumimos nossa quota de responsabilidade pelo universo à nossa volta.
Quem sabe agora, após as eleições, o brasileiro desenvolva sua capacidade de flutuar também para a posição depressiva e aprenda a lidar com a própria responsabilidade, com as contingências, com a assunção de seu lado negativo e também positivo, assim como o do outro.

Alessandro Poveda
Psicanalista SAC
(11) 94945-8735
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