TRAZER LUZ

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“Estamos à procura de um quadro dos anos esquecidos do paciente que seja igualmente digno de confiança e, em todos os aspectos essenciais, completo…
Todos nós sabemos que a pessoa que está sendo analisada tem de ser induzida a recordar algo que foi por ela experimentado e reprimido, e os determinantes dinâmicos desse processo são tão interessantes que a outra parte do trabalho, a tarefa desempenhada pelo analista, foi empurrada para o segundo plano. O analista não experimentou nem reprimiu nada do material em consideração; sua tarefa não pode ser recordar algo. Qual é, então, sua tarefa? Sua tarefa é a de completar aquilo que foi esquecido a partir dos traços que deixou atrás de si ou, mais corretamente, construí-lo…
Todos os elementos essenciais estão preservados; mesmo coisas que parecem completamente esquecidas estão presentes, de alguma maneira e em algum lugar, e simplesmente foram enterradas e tornadas inacessíveis ao indivíduo. Na verdade, como sabemos, é possível duvidar de que alguma estrutura psíquica possa realmente ser vítima de destruição total. Depende exclusivamente do trabalho analítico obtermos sucesso em trazer à luz o que está completamente oculto. Para o analista, a construção constitui apenas um trabalho preliminar”.

Certa vez, durante uma sessão, por volta das 19h20, houve uma queda de energia no consultório.

Era um início de noite chuvoso, embora ainda estivesse relativamente fraca.
Prontamente a paciente informou que poderíamos remarcar a terapia. Porém, havia se passado tempo suficiente para que o conteúdo externado fosse relevante para o processo analítico.
Antes que o aquele momento fosse desperdiçado, virei o celular que estava sobre a mesa de centro e liguei a lanterna, que, em alguns aparelhos, é bastante potente.
A análise prosseguiu, agora com o ambiente à meia luz. E valeu a pena o improviso. A associação livre fluiu de maneira muito proveitosa, e algumas verdades inconscientes da paciente vieram à tona. 
Restando cinco minutos para o fim da sessão a energia elétrica foi restabelecida. Mas foi apenas para confirmar uma espécie de corte, pois o objetivo havia sido atingido.
Naquela noite percebi que, muito além das pretensões de cura do analista e do desejo de cura do analisando, a psicanálise visa trazer luz. Pois ela é que possibilita ao paciente enxergar sua própria escuridão.

(Trecho extraído de: CONSTRUÇÕES EM ANÁLISE – 1937 – Obras Completas de Sigmund Freud – Volume XXIII- Editora Imago)
 
Alessandro Poveda
Psicanalista SAC
(11) 94945-8735
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